2009-08-06

PSD, as listas e a liderança... (act. 6.Ago)

Manuela Ferreira Leite cometeu nos últimos dias alguns erros graves, prejudicando o PSD e... o país... Creio que deles se virá a arrepender.

Desde há uns dias, o PS entrou "em Férias". O PSD tem o protagonismo mediático que tanto exigiu e solicitou.
Aproveitamento? Negativo.
Porquê?

1. Ao apostar na "VERDADE" e na "RENOVAÇÃO" comos traves mestras da sua campanha (dos motes dos cartazes ao "Portugal de Verdade"...), MFL chama a si o tipo de conduta política que os Portugueses mais sentem precisar - dada a alargada descrença no Estado e na classe política e no sistema judicial - MAS, a partir do momento em que o anuncia, impõe a si mesma e ao PSD a necessidade de ser... exemplar...

2. Ora, para quem se diz representar a renovação e a verdade, as politiquices não são admissíveis... O show de politiquice interna na elaboração de listas e as fracturas internas, que se contrapõem à falta de um programa digno desse nome, dão do PSD uma imagem de um partido com ainda mais politiquice do que o PS... Se a grande crítica ao PS é a "tomada do Estado" pelo partido, a imagem que fica é que será ainda pior se for o PSD a formar o próximo governo...
Pior ainda: este processo passou para a opinião pública a ideia de um partido em que RENOVAÇÃO é o que não há (maioria das escolhas "novas" são ex-líderes PSD do período Cavaquista... e "filhos de") e em que critérios éticos defendidos (como a questão dos candidatos não serem arguidos) caem por terra na primeira lista a elaborar... Ou seja: em que VERDADE é um "mote" mas não mais do que isso, numa espécie de invocação vã de algo tão caro aos Portugueses, que dela sentem andar tão carenciados, e num tiro que mina a sua credibilidade!

3. Outra dimensão importante para os Portugueses é a confiança. Para tal, entre outros eixos importantes, está o da governabilidade. Logo, de PS e/ou de PSD, os eleitores exigem que demonstrem coesão e abrangência. Ora os últimos dias, os tais em que o PSD teve o protagonismo mediático mostram bem as clivagens internas, de um partido com demasiadas vozes, em que cada um tem a sua própria agenda (qual a necessidade de Marques Mendes falar nesta altura, levantando mais uma polémica, com a exclusão de arguidos de todas as listas?), e com uma chefia autoritária e não democrática... Ou seja, o PSD mostrou que tem menos condições de ser governo do que o PS, por ser menos coeso e conviver menos bem com diferenças internas (apesar de tudo PS alia-se a Roseta e Sá Fernandes, convida e elogia Alegre, que mantém o seu peso e mantém-e no partido...).

4. As conclusões mais importante a retirar destas exclusões são, porém, ainda mais devastadoras:
i) Ao afastar Pedro Passos Coelho e Miguel Relvas, MFL está a afirmar que 31,5% dos votantes das últimas eleições internas não merecem ter representação parlamentar... Significa que parte do seu partido não tem qualidade?
ii) ao afastar os representantes maiores dessa parte significativa do seu partido, MFL está a demonstrar mais uma vez a sua veia "não democrática", e de não respeito pelas minorias... e MFL "só" teve 37%, imagine-se que tinha tido mais de 50%...
iii) ela torna público que não perdoa, e que prefere manter um clima de guerra interna a unir o partido... o que fará ao país?
iv) com este passo, e a animosidade criada, ela garante que, se perder, a sua cabeça rolará de imediato, pois nada lhe será perdoado... Ao optar por retirar-se a si mesma qualquer margem de erro, ela demonstra ou desinteresse pelo PSD ou alguma falta de compreensão dos mecanismos de poder (e, se assim for, denota eventual falta de inteligência...)
v) garante ainda que, se ela for afastada da liderança, e dado que o grupo parlamentar corresponderá apenas a uma ala do partido, haverá provelmente uma "guerra" entre Partido e Grupo Parlamenttar... que responderá contra a liderança do partido...
Marcelo, Ribeiro e Castro no CDS-PP, Menezes ou a própria MFL, encontraram esta situação ao ganhar o respectivo partido... foi algo que lhe dificultou e dificulta a vida, mas parece que ela não quis mostrar ter aprendido a lição, antes preferindo a "vendetta" e prejudicando o PSD (se MFL sair, seria do interesse do PSD ter um futuro líder no Parlamento)...
vi) De quem defendeu "a suspensão da democracia por 6 meses" pode sempre levantar-se a questão sobre a sua capacidade de dialogar (e de ouvir os Portugueses, algo que aparece nos cartazes!)... Ao tomar esta opção, MFL reforça a ideia de que, aparentemente, não é mulher de estabelecer pontes e, muito menos, estar aberta a opiniões divergentes, mesmo dentro do seu próprio partido... imagine-se no país!
vii) Todos os estudos e o próprio bom senso mostram que as boas lideranças são as que fogem de um sistema em que líder apenas ouve os "Yes Man" e excluí opositores e todos aqueles que têm ideias diferentes ou que dão sugestões "não alinhadas"... A coesão é importante MAS este método de liderança conduz não só a um certo autismo como a uma limitação muito grande das opções e da própria qualidade da análise, enviesada e cada vez mais distante da realidade... Ora sem boa análise e diagnóstico, é improvável chegar a boas soluções e, sobretudo, chegar às pessoas...

A conclusão parece óbvia: MFL, em nome da coesão do grupo parlamentar (no caso de obter uma vitória) cometeu um erro que irá fazer perder votos ao PSD, baixando as suas hipóteses de ser governo, deu uma imagem de um partido fracturado, e reforça ideia de que não aprende com as lições da história, de que nem sempre é coerente e que tem falta de capacidade de diálogo e de abrangência...

PS: tal como previa acima, há cerca de 24 horas atrás, MFL deu, provavelmente, um tiro no pé, pois não só esmagou a sua margem de erro como lançou uma guerra interna, a curta distância das eleições, que impedirá, provavelmente, uma vaga de fundo laranja, ou sequer uma motivação da "máquina laranja" que era uma das "cartadas fortes" do PSD para tentar a vitória nas legislativas... isto além das consequências que também terá, nas autárquicas!
As notícias sucedem-se, com contestações, trapalhadas, discordâncias mitigadas (dada consciência de risco de impacto eleitoral desastroso que este processo implicará), divisões, confissões, inconfidências e acusações fracturantes... E a única esperança, para o PSD, de a cerca de 50 dias das eleições este cenário não ter impacto significativo e catastrófico nos resultados do partido é... ser entretanto esquecido, dado que maioria dos Portugueses está... "a banhos"...

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