Obrigatório o artigo do Ricardo Reis sobre... BOM SENSO! Resume-se na sua última frase: "Uma família pode ter decidido que vale a pena comprar uma casa, mas se a taxa de juro do empréstimo duplicar, a atitude responsável implica no mínimo repensar se esta será a melhor altura."
Uma outra questão de bom senso: uma linha que parte de um local sem população e sem ligações minimamente aceitáveis a centros populacionais importantes, vai ter passageiros? Pois... é duvidoso... Mas ontem o Estado Português assumiu que sim... E assinou um contrato de mais de 1,4 mil milhões de euros... apesar de adiarem o resto do percurso...
Um outro tema interessante, e que talvez mereça bom senso, é a decisão sobre os feriados, vulgo "tolerância de ponto", por ocasião da vinda do Papa. Deixamos aqui um artigo - com o qual, no modo como é abordado o assunto, não nos revemos - sobre o tema...
Há que distinguir duas questões:
1. as tolerâncias, nas cidades do Porto e de Lisboa, nos dias em que o Papa estará presente, o que se compreende por razões logísticas e não daria lugar a mais discussões - é algo similar ao que acontece quando há jogos de futebol ou outras manifestações que arrastam multidões. Basta pensar no que aconteceu no Euro 2004, ou o que sucederia se Portugal fosse campeão do mundo, no dia de regresso e desfile na cidade de Lisboa...
2. Uma outra coisa é a tolerância nacional de dia 13. Parece-nos legítimo aceitar o legado histórico, a começar pelo próprio nascimento do Estado, ligado à aceitação Papal da independência, e a matriz cristã de toda a sua história, bem como ter a noção de que, ainda hoje, a larga maioria da população se define como católico - ainda que seja verdade que uma maioria dessa maioria se defina hoje de acordo com um critério que é algo incoerente, o "católico não praticante" ou responde com base em "a minha educação foi"... Significa isto que esta maioria não se oporá a esta medida.
Dos restantes cidadãos, nos quais aliás me incluo, não incluídos nesta maioria, haverá dois grupos:
a) os que verão nisto um sinal inadmissível de não laicidade nem de neutralidade do Estado, privilegiando esta maioria em detrimento das outras minorias
b) os que entendem que, dada a história e a realidade sociológica do país, e dado ser algo que ocorre raramente e para mais trará frutos de imagem para o país, e entenderem ainda que daí não parece vir grande mal ao mundo e que poderá até servir de tubo de escape a período menos bom. Nesse sentido, este acto de algum desrespeito da laicidade do Estado - em sentido estrito - não é algo que possa ser mal interpretado ou deva ser algo com que se deva gastar muita energia. Mais: a não tolerância poderia ser causa de crispação e conflito maiores do que as que esta tolerância possa gerar. Ora, num país já tão desgastado com conflitos e crispações, e com problema tão sérios - incluindo o desemprego e a ameaça de fome! -, esta medida conciliatória deve ser encarada como positiva, ou pelo menos aceitável, ainda que desrespeitando um pouco o estrito laicismo do Estado... pois a última coisa que necessitamos, nesta altura, são mais razões para fracturas e conflitos...
Adiantará algo, melhorará a situação - presente ou futura - do país abaixo-assinados e outros protestos porque foi dedicido uma tolerância de ponte? Não nos parece...
Não esquecer que a ética é a "ciência da vida prática", ou seja, a procura de soluções sensatas para resolver as questões "correntes", da vida dos homens e das sociedades... Poupemos energia, tenhamos bom senso...
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