2009-05-22

Ética e Política

Começa este post pelo sumário do que abaixo se apresenta: se PS não respeita integralmente a Cidade (Polis) nem os cidadãos. Se os demais partidos representados no Parlamento não pensam no país mas apenas na lógica partidária... Que alternativas restam? Será que não temos respostas no actual quadro político?

Os factos (e algumas leituras das mesmas...)

1. Elisa Ferreira e Ana Gomes candidataram-se a duas Câmaras Municipais. A segunda mais importante, historicamente, o Porto, e a segunda mais populosa, Sintra. Ambas cidades fundamentais do País, e ambas Património Mundial.
2.Uma candidatura a um qualquer município – e por força de razão no caso de duas das mais importantes autarquias do país - deve implicar uma ideia para o seu desenvolvimento, a defesa de princípios norteadores da acção governativa – neste caso a nível autárquico -, que permita definir prioridades, e assim justificar as escolhas em nome da causa pública, que são a razão de ser da política e do exercício do poder. Numa palavra: exige-se um programa, pensado, estruturado.
3.Candidatar-se à presidência de um município desta importância exige empenho, dedicação total, crença no seu Programa. Exige vontade de o levar a cabo, e, sobretudo, exige compromisso total com essa vontade, com o município, com os munícipes e com todos aqueles que lá vivem e aqueles que lá trabalham ou que simplesmente a visitam (e nestas duas cidades a dimensão do turismo é muito importante), e também com a sua história.
4. Ambas as candidatas foram já anunciadas oficialmente pelo partido que está neste momento no Governo – e que tem portanto responsabilidades acrescidas para com os Portugueses, que nele depositaram a sua confiança. Correctamente, pensar a cidade deve ser feito ao longo do tempo, estruturar um programa, dar a conhecer as suas propostas e o seu perfil, é algo que demora tempo, para mais quando e de política de proximidade que falamos (poder local), e quando nenhuma tem experiência autárquica nem de gestão das respectivas cidades, pelo que precisam de tempo de preparação, estudo de dossiers e conhecimento directo das realidades...
5. Os cidadãos destas cidades exigem esse compromisso e dedicação total, porque sentem que merecem, porque sabem que, como grandes autarquias que são, precisam de alguém que dê dedicação total... Se em qualquer município isto é verdade, no caso do Porto esta noção é avassaladora: no Portuense, o sentimento de “bairrismo” é extremo – como vulgarmente é reconhecido em todo o país.
6. Em rigor, se um candidato tem um programa em que acredita seriamente, deve comprometer-se com os seus eleitores que, em caso de derrota, continuará na Câmara, ou no município, para lutar por esses programa.
7. Ambas estas senhoras estão na lista para o Parlamento Europeu, do PS.
8. Ora, das duas, uma: ou se assume um compromisso com uma das segundas cidades do país, e se faz um candidatura em nome de um programa e de um projecto, ou se pretende defender um conjunto de princípios e um programa a nível da política Europeia. Não se pode fazer ambas. Não é possível, seriamente, anunciar uma candidatura ao governo de uma cidade, colocar cartazes pela cidade fora, e depois suspender esse tirocínio e essa vontade porque se vai assegurar um lugar na lista de deputados do Parlamento Europeu.
9. No caso de Ana Gomes, o caso é grave, porque sempre se tentou posicionar como uma intransigente da ética na política. E este comportamento não é sério com a cidade de Sintra. Dir-se-á: na realidade está a fazer um serviço ao PS em Sintra, pois o PSD já ganhou, com qualquer candidato PS. Diremos: mas política é servir o país (e, neste caso, Sintra) e nunca servir o partido, ou fazer um frete a candidatar-se! Para mais quando o PS já governou em Sintra. Mais: se tentasse seriamente reconquistar a Câmara de Sintra, com um programa e um candidao verdadeiramente empenhado, faria um real favor ao município, mesmo que perdesse, pois boas ideias e uma boa oposição só ajudam em democracia, sendo até, em geral, condição de bom governo! A Dra. Ana Gomes, por isso, perdeu a sua credibilidade. É grave.
10. No caso de Elisa Ferreira o caso é revelador de outras dimensões. Primeiro, de falta de memória e, até, de inteligência da “jogada” - do partido, e da própria. Porquê? Porque revela não conhecer os portuenses. Estranhamente, pois Elisa Ferreira é do Porto. Revela, ela e o partido, não ter memória e/ou ter fraca capacidade de aprendizagem: Rui Rio está na Câmara não porque Fernando Gomes foi “para Lisboa”, mas porque FOI... Deixou a CMP para ir para o Governo (tendo por isso considerado o Porto "secundário") ou seja, aos olhos dos cidadãos do Porto, ele quis ser voltar a ser presidente da C.M. Porto APENAS porque a vida não lhe tinha corrido bem noutro local... Tinha mostrado, quando surgiu oportunidade, que dava preferência a outra ocupação que não ser Presidente da Câmara Municipal do Porto. E essa ambiguidade, os portuenses não aceitam, como dito atrás. Após as Europeias, com Elisa Ferreira eleita deputada ao Parlamento Europeu, e com Rui Rio em campo a recordar isto todos os dias... Elisa Ferreira será vista como uma segunda Fernando Gomes. E se vencer Rio já não era fácil, com esta jogada será copiosamente derrotada. Repete-se: copiosamente! Não fará muito melhor que Assis, se o conseguir de todo em todo. E mais, com uma proximidade extrema das legislativas, o PS perderá votos também nas legislativas por ter feito esta jogada. E o distrito do Porto é o segundo que elege mais deputados... O PS e a sua candidata revelam pois pouca visão, pois esta era uma escolha desnecessária – e Elisa teria, realmente, de fazer uma escolha.

Nada tem de imoral candidatar-se ao PE e depois candidatar-se a uma Câmara Municipal. Mas, se quiser levar realmente um projecto para a frente, em nome da cidade, então tem de acompanhar o seu governo e, logo, mesmo que venha a ser derrotado, deve assegurar o seu lugar como Vereador, ou pelo menos estar na Cidade, para acompanhar o seu governo. E poder ganhá-la daqui a 4 anos... Isso sim, é compromisso com a POLIS..

Se o PS parece não pensar na POLIS, não está sozinho. O exemplo é o modo como os demais partidos impediram a eleição de Jorge Miranda para Provedor da Justiça, mesmo considerando-o solução óptima, mas preferindo ... que o país ficasse sem Provedor!!! O texto sobre esse assunto foi colocado em post independente.

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