Hoje houve mais uma importante manifestação de professores (e não só). Direito à indignação? Com certeza. Mas... mesmo em vésperas de eleições, houve explicação sobre os Motivos concretos? Foram lançadas algumas propostas? Desconhece-se...
Por outro lado, há dias surgiram comentários no www.umzeroaesquerda.blogspot.com e noutros blogs sobre uma situação concreta: "Uma professora de ciências do ensino básico que obteve uma decisão positiva sobre a passagem à reforma, foi impedida de dar aulas a partir de 31 de Maio, embora tenha manifestado a vontade de o fazer até finalizar o ano lectivo. A “revolução” de que tem falado Vital Moreira (...) não passa de mais papéis, incompetência e falta de respeito. (...) Se ainda há alguém com vontade de defender Maria de Lurdes Rodrigues, o seu ministério e a sua direcção regional do norte, faça favor".
Pois bem: mais do que defender pessoas, pensamos que todo o modo de colocar a questão do debate da educação é errado. Pior: ele é erradamente colocado por aqueles que têm obrigação de ... EDUCAR para o EXERCÍCIO da CIDADANIA e daqueles que, por ora, têm o dever do EXERCÍCIO DO PODER! E depois são ajudados por uma sociedade que parece ter dificuldades em compreender uma regra base: DEBATER IDEIAS, MEDIDAS e IMPLEMENTAÇÕES, NÃO PESSOAS em si! (sim, podem obviamente debater os seus comportamentos e as suas condutas... no serviço público, não na esfera privada...)
E neste debate, que a TODOS prejudica, porque prejudica os alunos, e portanto uma geração inteira, a que representa o futuro do´país o problema dos professores é de “Atitude”, o problema da Ministra é de Comunicação.
Como é possível conseguri notáveis mobilizações de uma classe e... não aproveitar para debater os princípios fundamentais subjacentes à política de educação? não aproveitar para propor releituras e novas oportunidades? novas medidas? como não debater apresentando propostas concretas alternativas?
Como é possível que a aplicação um procedimento administrativo – por inadequado que seja, sobretudo em termos dos interesses dos alunos, possa ser apontado à Ministra? Antes de escrever este post alguém foi verificar quais os procedimentos de “passagem à reforma” na administração pública?
Talvez nesse caso se tivesse legitimidade para criticar a cega aplicação de normas que prejudicará, objectivamente, os alunos desta professora, pela DREN (ou por qualquer outra entidade pública com competências similares), mas se compreenderia que a Ministra não tem propriamente relação com o assunto – nem o Ministério da Educação é diferentes dos demais neste caso.
O problema do debate sobre educação em Portugal, no momento, é mesmo este: os professores criticam por tudo e por nada; fazem manifestações sem serem capazes de lhe indicar UM propósito que não seja... o de protestar contra... “a política”... Ora: “ política” de educação deve partir de uma ideia de sociedade, corporizar-se em algo concreto... Logo: critico os seus fundamentos (e contraponho outros, outro entendimento da sociedade) e/ou as medidas concretas de uma política.
Criticar “a política” de um modo abstracto, sem dizer a que me refiro... é vago, inútil, demagógico...
- todos os cidadãos, e sobretudo a classe que tem como missão formar as próximas gerações de cidadãos, devem... fazer crítica construtiva: não basta dizer mal, é preciso dizer O QUE se critica e o QUE SE PROPÕE, sob pena de ser “dizer mal por dizer mal”.
- em vésperas de eleições, o protesto deve ser, deve ser, feito com propostas, deve ser assumido como o apresentar de caminhos alternativos e... reverter-se em VOTOS!
- O problema dos professores é precisamente que cairam nesse dizer mal por dizer mal: fizeram uma das maiores manifestações de que há memória em Portugal, mantiveram o momentum e... NADA, nem uma proposta! Não aproveitaram esse notável movimento de empenho e de exercício de cidadania para CONTRAPOREM uma proposta de modelo de avaliação. Apenas se reuniram para... pedir a suspensão da aplicação! Isso não é contrapor políticas, isso é “bota abaixo”... Para manter tudo como está, sem métodos de avaliação! Mais: ou me manifesto contra o sistema de avaliação proposto, ou contra “a política”....
- para cúmulo os professores, numa ânsia crítica sem limites, aproveitam tudo para criticar a Ministra, mesmo usando exemplos que nada têm de “político”... Como este caso que, mostrando bem a estupidez de certas regras da função pública e da aplicação cega de normas, não tem claramente qualquer relação com esta Minista...
O problema da Ministra, por seu lado, é não conseguir comunicar, e mostrar à maioria dos professores – a larga maioria da classe, tal como da maioria das classes profissionais em Portugal, é constituída por pessoas sensatas... – que para dialogar, é preciso apresentar contra-propostas, ser construtivo na crítica, apontar especificamente os erros das políticas e das medidas concretas... Em suma: o que falta à Ministra é a capacidade de diálogo com aqueles que tutela, que têm a responsabilidade de fazer a socialização em nome do Estado e que, por isso, são agentes vitais para implementar as políticas... LOGO: a Ministra não tem condições para seguir com a implementação das suas políticas, por não ter condições nem ter mostrado capacidade de abrir os canais de diálogo. Idealmente, ocorreria o mesmo que no Ministério da Saúde: a substituição de protagonista foi o suficiente para que a mesma política, com alterações menores, muito ligeiras, fosse implementada, de modo tranquilo, sem a animosidade que existia com Correia de Campos. Sucede que estamos agora em período eleitoral. Socrates não pode substituir a Ministra agora... Teremos de esperar pelas eleições...
O que se espera é que os professores aproveitem este momento para reflectirem sobre a sua Atitude. E que a alterem. E que procurem AGORA dialogar com os partidos – que são os agentes envolvidos nas eleições de modo directo, como mediadores entre a sociedade e o poder – para que cada um dos CONCORRENTES ÀS ELEIÇÕES DEFINA e EXPONHA quais os seus princípios para a EDUCAÇÃO e quais as MEDIDAS CONCRETAS que propõe...
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