2011-04-12

O fim da comunicação política…

O PS acredita. Fiquei espantado, mas acredita. Falei com diversos militantes após o congresso socialista, e estão longe de deitar a toalha ao chão. As sondagens ajudam: 5 a 6% de desvantagem a dois meses das eleições representam, em muitos casos, a vitória do partido do governo, que costuma recuperar antes das eleições. É um fenómeno comum não apenas entre nós, mas a nível global. Mas há exceções (o acordo ortográfico cria algumas aberrações a que não creio vir a habituar-me). Portugal 2011 será uma delas.

O PS está preocupado em culpa o PSD pela crise política e, em parte, pela “entrada do FMI”… Seria, em condições normais, uma boa estratégia. Acontece que não vivemos uma situação normal. Abrir a televisão é correr o risco de pensar em emigrar ou até pior… Uma notícia positiva é rara… É a crise, o FMI, os gritos dos políticos, as desgraças naturais, as guerras, o fecho de empresas, as situação de carência, a incapacidade das organizações sociais, os exemplos no mínimo duvidosos de gestão pública em proveito próprio, os casos de corrupção, os crimes de colarinho branco que acabam arquivados ou absolvição, a sensação de injustiça de um esforço que é apenas de alguns, o cenário de 2012 que é pior que o de 2011, pior que o de 2010, são as negras perspectivas dos jovens, … A televisão, os jornais, a rádio ou qualquer outro meio por onde cheguem as notícias são perigosas fontes de potencial depressão…

E a causa … não é a crise política… espanto! A causa maior é a crise económica e financeira que é sentida de modo tão dramático por uma boa parte dos portugueses que será o único critério de decisão da maioria esmagadora dos eleitores que decidirem ir votar. E o seu pensamento é simples e linear: estamos “na m%#r&/!” e a culpa é de quem?

A resposta certa não é tão linear e simples como os portugueses gostariam. A maior parte da responsabilidade é colectiva e uma boa resposta deveria sempre começar por “nós”… Mas os eleitores, a maioria, a grande maioria, não está disponível para ouvir esse tipo de respostas ou ponderar factores como a crise financeira, a subida dos custos da energia, o doloroso custo da acertada estratégia das renováveis e das exportações, ou a tentativa de preservar e alargar a proteção social perante a crise de 2008. Os eleitores, a maioria, a grande maioria, só irão aceitar ouvir uma resposta simples, direta, que lhes pareça válida, intuitiva, e que tenha um nome que esteja no boletim de voto ou associado aos nomes que estão no boletim (que são o nome dos partidos…)… E o “nós” não está no boletim! Por isso os eleitores, a grande maioria deles, querem uma cabeça. E quando ouvirem: “o PS esteve no Governo 12 dos últimos 15 anos, e Sócrates foi PM nos últimos 6!” eles irão ficar por aí: está encontrado o culpado da sua dura situação económica, ou das dos seus amigos ou familiares desempregados… E já não irão querer saber de mais nada, muito menos de quem é culpado da crise política… A decisão de castigar o “Sócrates” e o PS, que o manteve como seu candidato a PM por mais de 93%, está tomada…

E não há comunicação política que lhe valha… Por isso Apostei com vários desses militantes que o PS não ultrapassará os 30%. Admito que num dia de sorte poderia chegar aos 32 ou 33%, como poderá ficar pelos 24 ou 25%, mas ficarei absolutamente surpreso se superar os 35% e incrédulo se ganhar estas eleições. Era preciso uma situação totalmente inesperada para o explicar…

1 comentário:

Sérgio R disse...

Concordo com a análise mas tb vai depender da quantidade de erros q eventualmente PSD cometer... Mas acho q PSD + CDS será mesmo o próximo governo. Aguardemos pelos próximos capítulos...