2011-08-27

Visões… Curtas?

Acaba o post anterior: “Ao nível ainda mais profundo, várias questões mostram como o país é por vezes gerido com falta de visão e inteligência, ou pelo menos parecem levantar sérias dúvidas, legítimas, sobre se não precisamos de líderes novos, com visão mais estratégica e menos tática…”… Alguns casos:

  • a extinção da Parque Expo e de outras duas empresas “conexas”: por um lado parece esquecer que a Parque Expo trouxe resultados muito positivos ao país - 44 mil milhões segundo um estudo recente; por outro porque pode ter custos incomportáveis no curto prazo para o… deficit de 2011 (!) e porque vai ainda implicar… a nomeação de uma nova Administração! Mas a empresa, em si, poderia ser vendida, ou pelo menos alguns dos seus ativos (Pavilhão de Portugal, Pavilhão Atlântico, etc.), não precisava ser encerrada. Porque sobretudo, e aqui a verdadeira crítica: a Parque Expo, independentemente de erros e abusos, conseguiu tornar-se um centro de CONHECIMENTO reconhecido a nível mundial, em políticas urbanas e regeneração de tecidos urbanos. A Parque Expo ganhou contratos em locais como a China (Shangai), Argélia, Tunisia, Marrocos, Espanha, Brasil, Angola, Moçambique, … Ou seja: é uma empresa com capacidade exportadora, uma empresa baseada em CONHECIMENTO na época da economia do… conhecimento!! Ou seja: o Estado Português tem um activo precioso e PORTUGAL tem um ainda mais valioso – o SABER! – e que faz o Estado: olha apenas para a tesouraria e nem sequer vende empresa, encerra-a!! O que acontecerá? simples: os quadros irão fugir para outras empresas, privadas, alguns para fora do país... (pode alienar-se património, é muito mais grave alienar, sem receitas, pessoas e para mais pessoas com conhecimento....)
  • E podemos pois dizer que, em termos de políticas de cidade, um dos eixos fundamentais do desenvolvimento das sociedades modernas, Portugal tem os dois extremos: o pior e o melhor. Algumas autarquias – poucas – têm políticas e visão notáveis, a maioria nem por isso. A gestão das redes de transporte (poucos estudarão a fundo modelos possíveis. e das políticas ambientais toca nos dois extremos). Num país com excesso de habitações por habitante e ainda maior excesso de proprietários de casa própria (hipotecada) a lei do arrendamento e o incentivo ao mercado de arrendamento deveria ser prioritária. Até a Troika o disse. Aparentemente a banca, que em muito ajudou ao endividamento excessivo dos portugueses e de Portugal, continua de olhos fechados a esta necessidade – exceção para a CGD, aparentemente, que decidiu ajudar o Governo nesta direção da aposta no arrendamento.
  • Olhando para o território e para a economia de modo lato, a falta de uma clara política de transportes e, sobretudo, a falta de articulação de uma política ferroviária com a portuária e aeroportuária, que aqui já referimos, e que denota uma falta de visão estratégica desde os anos 80 (carga, mais do que passageiros!), quando se deu o início do desinvestimento. O resultado é este mapa… quase vazio e em esvaziamento! Os custos em termos de poluição, tempo e custos financeiros imputados às mercadorias não são pequenos…

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  • Os indicadores perda de empregos autónomos (auto-emprego) é uma tendência em vários países mas Portugal está “demasiado bem colocado”. A aposta no empreendedorismo não está a ser ganha! Precisamos rapidamente implementar medidas inovadoras e seguir o exemplo e as ideias de Diogo Vasconcelos, no seu “inovação Social”! Ligado ao empreendedorismo, a inovação. Por isso aqui deixamos um outro artigo a merecer reflexão: de Carlos Zorrinho sobre Inovação.
  • E por falar no responsável pelo Plano Tecnológico e depois Secretário de Estado da Energia… outro assunto importante: a dependência energética é o maior de todos os deficits nacionais. Logo, a questão de menorizar consumos não responde. Abre-se a oportunidade das renováveis? Defendem uns que sim, mas há quem defenda que essa aposta nas energias renováveis é excessiva e deve ser reduzida… Mera contabilidade e falta de visão, ou … Um debate que deve ser levado a sério!
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  • E depois… como sempre… a educação… Lê-se que: “novo programa de portguês tem na base documento que Ministro considera inútil”… Será que vai ser alterado de novo para o ano?? Estamos numa era em que a capacidade de aprendizagem é mais importante do que a mera enumeração de conteúdos. Assim sendo: será difícil chegar a um consenso sobre programas e fazê-los ser independentes das mudanças políticas conjunturais e sim adaptáveis às mudanças significativas no mundo (Ex: as tecnológicas e científicas)? Poupavam-se recursos e sobretudo dava-se estabilidade a um sector fundamental e a muitas famílias!
  • Ligada à educação….a questão da iliteracia também merece atenção, quando pensamos que não, um trabalho de fundo mostra bem os custos económicos desta maleita da sociedade, muito recomendado.
  • A linha de evolução do nosso deficit mostra qual a fonte dos problemas… Há uma irresponsabilidade política em Portugal. E por sentirem isso alguns querem colocar os limites ao deficit nas Constituições. Cavaco Silva mostra-se totalmente contra, no facebook. Mas Cavaco Silva, precisamente o homem da rodovia e do “betão” e “infraestruturas” em detrimento do “saber” e das “pessoas”, conta-se entre os principais responsáveis e agentes dessa irresponsabilidade. Há números que não deixam grandes dúvidas. Este artigo de opinião não deixa grande dúvidas. Se se basear em dados errado, então deve ser contestado pelo Presidente. Mas o facto de termos tido praticamente só Ministros das Finanças sem experiência empresarial também pode ajudar a explicar algo (apesar de que na sua maioria foram homens de elevada craveira intelectual e seriedade)…
Em suma: em muitos aspectos Portugal ainda é um bom sítio para se viver. Que o digam muitos imigrantes, melhor aqui que no seu país. Mas Portugal vive ainda segundo velhos padrões em vários aspectos. Para amenizar, há que sorrir, senão rir. Aqui se deixa uma história divertida… de “faca e alguidar” à antiga!