2011-06-21

Finanças, Economia e Saúde…

Um Ministro é o responsável pela implementação do programa de Governo, na sua área de atuação. Logo, para ter condições de sucesso (o sucesso é o grau de implementação da política definida, votada na AR que por sua vez eleita pelo Soberano, o Povo e, logo, a política de cada área tem uma certa dose de legitimidade), são fatores importantes;
  • alinhamento com programa global do Governo
  • alinhamento com programa sectorial do Governo que lhe cabe
  • conhecimento da sua área de atuação
  • capacidade de mobilizar agentes e parceiros do sector para as suas políticas
  • capacidade de negociação política, dentro e fora dos partidos que apoiam na AR o Governo de que faz parte o dito Ministro
  • capacidade de liderança da equipa próxima (Secretário de Estado, assessores e consultores, etc.) mas também de equipa mais lata (colaboradores e funcionários do Ministério respectivo), bem como dos agentes do sector e dos cidadãos co-envolvidos direta ou indiretamente
  • capacidade de comunicação para transmitir aos cidadãos e aos stakeholders diretos e indiretos as suas ideias e explicar as suas medidas, de modo a ter o seu aval renovado
  • Experiência profissional relevante, de preferência na área, pelo menos em parte (critério que não parece ser obrigatório).
A esta luz, analisaremos este Governo e alguns Ministros… Neste post: Finanças, Economia e Saúde.

Um CV que promete, o do primo do Francisco Louçã… Aliás, até Vitor Bento e outros, como Medina Carreira, apostam em e elogiam Vitor Gaspar, o novo Ministro das Finanças… que para já tem na área dos medicamentos uma frente de combate séria (40% de fraude), além de empresas públicas falidas mas salários de gestores públicos aumentaram 35% nos últimos 3 anos... Serão oportunidades para quem lia Marx aos 18 mas é intitulado de “falcão liberal” aos 50?

Na saúde teremos alguém que já deu provas de eficácia em cortes de fugas e captação de receitas… no Ministério das Finanças… Paulo Macedo. Num sector que presta bons serviços, genericamente, mas cujos desperdícios são comuns, este perfil de gestor duro e conhecedor (Administrador da Medis…) parece indicado, apesar do risco de vir do maior player privado do sector…

Já na Economia não parece que possamos ser tão optimistas… Não pela competência, inteligência ou simpatia do Ministro… Mas por uma questão de desalinhamento. Há apenas um mês, o novo Ministro mostrou não estar alinhado com programa do Governo. O PSD defende baixar a TSU até 4%, e gradualmente (Portas nem sequer 4% defende, achando exagerado), já a ideia do novo ministro é radicalmente diferente: descida de 10 a 15% da Taxa Social Única, como política de  choque e animação imediata, com foco no emprego, mesmo que isso prejudique ainda mais as contas públicas… Este simples desalinhamento já torna esta escolha de enorme risco: ela marca uma completa diferença na abordagem ao crescimento económico e aos instrumentos de animação da atividade e do emprego. Logo, temos divergências de fundo, não apenas de forma. Ora a nova pasta da Economia é responsável: por animar economia e o tecido empresarial, pelo emprego, pelos sub-sectores Indústria, Comércio, Turismo, Serviços, Transportes, Energia e Telecomunicaçöes, além da gestão do QREN e outros incentivos públicos e pelas obras públicas... Seria uma tarefa hercúlea, senão descabida, para um político experiente. Agora imagine-se para alguém que está fora há vários anos, não conhece o nosso tecido empresarial de modo direto (conhece-o, e bem do ponto de vista académico mas não parece conhecê-lo “no terreno”), vive no Canadá, é académico e não conhece meandros da política (agora, fundamental para ter apoio na AR, mas também para negociar com autarquias os incentivos; mas também desconhece “máquina” do funcionalismo e mecanismos dos incentivos… e também desconhece, penso, empresários, sindicalistas, associações empresariais… Tinha tudo para ser um grande consultor, não se lhe conhecem as competências políticas (e este é um cargo político, ou seja, de decisões que devem ser fundamentadas, mas são políticas) nem as de gestão, para ser Ministro, pelo menos nesta fase da sua vida… Espero enganar-me...

Sem comentários: