2011-02-06

O século da interdependência global..

Em termos de potencial conflito as grandes questões do século XXI são:

- a água e o acesso a água potável (e, em menor escala, o acesso à produção alimentar)
- o acesso a fontes de energia
- os choques culturais, civilizacionas e religiosos, bem assim como as migrações.

No essencial estas são reflexo das questões de sempre: sobrevivência e identidade (e supremacia).

Só que, no século XXI, há duas novidades:
- a questão da água passa a ter um destaque reforçado - (já não é apenas o tradicional acesso aos cursos de água, fundamental para a agricultura, pecuária e indústria, mas o acesso a água potável em quantidade suficiente
- todas estas questões não só superam fronteiras políticas (água, energia, cultura e religião) como têm agora dimensões globais. Até ao século XIX, de algum modo, o uso dos recursos locais poderia permitir confinar os conflitos à escala regional, entre vizinhos próximos. O século XX é o século da transição e por isso teve dois conflitos de algum modo quase-globais. Mas se a àquelas dimensão somarmos a questão das NBQ (armas Nucleares, Biológicas e Químicas) cujo alcance é planetário e cuja transportablidade as transforma em assunto de todos... e considerarmos a rapidez da circulação da informação, vemos que a interdependência é o resultado inevitável. 

E é por isso que o processo em curso no Egipto nos afecta a todos. Para quem não acredita... o preço da gasolina que metemos no carro de manhã subiu poucos dias depois do início do conflito!

No CRI temos um pequeno artigo Quatro partes envolvidas da questão do Oriente Médio realizam conversações em Munique que mostram como o mundo está a seguir de perto o processo.

(Nota: a própria existência da CRI - China Radio Internacional, denota esta interdependência: a China preocupa-se em ter um meio de comunicação que a dê a conhecer ao mundo... impensável até recentemente!)

As demissões de grande parte da elite dirigente Egípcia, que ontem aqui referimos, poderão ser fruto das pressões norte-americanas.
Esta demissão colectiva, inclusive do filho de Mubarak, parece ter como objectivo permitir a manutenção na Presidência de Mubarak, para que este possa assegurar uma transição pacífica em conjunto com os militares, e para que possa permanecer no Egipto, sem ter de se exilar - um dos objectivos que enunciou no discurso que fez aos Egípcios e ao mundo, há uns dias.
Desde aí os Norte-americanos mantiveram a defesa da ideia da necessidade de reformas imediatas (algo que apela "à rua árabe") mas também iniciaram um discurso focado na preocupação com o risco do processo gerar um caos incontrolável ou um vazio de poder. A ONU, pela voz do seu Secretário Geral, Ban Ki-Moon juntou-se a estas vozes, tal como o Papa Bento XVI. Ora, desde há uns dias, os EUA defendem a manutenção de Mubarak como garante dessa transição pacífica - as  declarações de Frank Wisner, globalmente noticiadas, e de Hillary Clinton vão nesse sentido.

Tudo leva a crer que poderá ter sido esse o acordo: Mubarak cede, reforma, afasta parte da elite mais corrupta, saí em Setembro, mas fá-lo com dignidade, no seu timing e não "em fuga", e tenta garantir uma transição pacífica. O regresso à normalidade (os bancos estão a reabrir) e o diálogo (a irmandade muçulmana reune-se hoje com o Vice-Presidente, um general...) seriam uma prioridade.

A questão à luz da qual se deve analisar agora os cenários em aberto é se esta "jogada" ainda será a tempo de evitar o tão temido caos, que pode ser traduzido directamente na (in)segurança regional, como bem vem recordar a sabotagem do gasoduto que liga o Egipto a Israel.
E por isso devemos ter em mente que, no mundo interdependente, não é só o Egipto que está em causa. O mundo sabe-o, e por isso há manifestações de solidariedade com o povo Egípcio por todo o mundo, comona Argentina. E o mundo também sabe que mesmo que, mesmo que no Egipto o caos seja contido, falta saber se no resto do mundo e sobretudo do mundo árabe (*) a situação é controlável ou estão já libertadas forças e energias acumuladas que não poderão ser travadas: Jordânia, Tunisia, Argélia (de onde vem boa parte do gás que consumimos), Iemen e até na Arábia Saudita há focos de tensão que se libertam...


(*) o El Pais é um dos jornais, a nível mundial, que se tem distinguido pela riqueza da informação e pelos artigos de contextualização de ajudam a compreender o que está verdadeiramente em jogo.Os seus dossiers são da mais alta qualidade.


Algo que deveríamos olhar com cuidado, com muito cuidado, são as declarações de David Cameron, que reproduzem as que a Sra. Merkel proferiu há alguns meses: o fracasso do multicuturalismo e necessidade de políticas musculadas de integração. Não parece que a França tenha conseguido melhore resultados que o Reino Unido em termos de integração de minorias étnicas e culturais...

1 comentário:

Anónimo disse...

A imigração sem controle tem que ser travada em Portugal, senão qualquer dia isto nem parece a nossa nação e aí deixará de haver o Portugal eterno, D. Cameron falou bem.
em Portugal força PNR