Adenda (23.Jun09):
1. o que se referia no post original, de 21 de Junho, era uma certa incapacidade de actuação de "fora para dentro", de intervenções directas do exterior, e até da capacidade limitada de apoiar, com sucesso, grupos menos hostis ao Ocidente no interior do Irão. Não se insinua que a vontade - e até a tentativa operacional - de influenciar os destinos deste país fundamental na geopolítica mundial, não esteja nas mentes das lideranças Ocidentais, Russas e Chinesas...
O post apenas defende que, face a circunstâncias específicas da República Islâmica do Irão, o potencial de tais tentativas é limitada, e as hipóteses de sucesso muito reduzida.
A aposta parece ser, por parte do Ocidente, apoiar as fracturas internas entre as elites, algo que pode ter impacto muito mais profundo e duradouro do que as intervenções externas.
2. Não está em causa uma Revolução ou mudança dramática de Regime.
Na República Islâmica do Irão uma parte dos órgãos de poder têm uma legitmidade que advém por ordem Divina, uma outra parte desses órgãos tem uma legitimidade que ´vem directamente do VOTO do Povo - é o caso da legitimidade do Presidente que advém da eleição directa.
O que está em causa neste momento é o restabelecimento dessa legitimidade. O Irão é, tecnicamente, uma Democracia, tal como explicitado pelo recentemente falecido Samuel Huntington. E é isso que está agora em causa - essa dimensão e legitimidade "terrena" de partes dos órgãos do Governo.
Não há na sociedade Iraniana forças com peso importante que desejem o fim do Estado Teocrático ou que sequer coloquem em causa a legitimidade e o desejo de ter uma programa nuclear (em termos públicos todos os grupos falam de fins pacíficos).
3. Estas as razões que explicam que Barack Obama seja tão prudente nas suas afirmações: o Irão não está, em qualquer caso, perto de uma mudança que altere profundamente as relações entre o Ocidente e o Irão. E que, mesmo que houvesse no interior grupos importantes defendesse o fim da República Islâmica, as potências estrangeiras teriam poucas hipóteses de - em acção directa - ser decisivos. A UE também está consciente dessa limitação e por isso também aguarda, com prudência...
POST ORIGINAL (21.Jun.09):
Infelizmente, os mais recentes desenvolvimentos da situação no Irão ilustram bem a diferença entre uma democracia "técnica", formal, e uma democracia liberal, com liberdades e garantias, diferença sobre qual escrevemos há algumas semanas em "Ciência Política em 400 Palavras"...
O potencial bélico e os recursos energéticos do Irão são razões muito fortes para acreditar que não há possibilidades de intervenção internacional directa.
A singularidade do Irão (a singularidade e riqueza de uma grande Nação e de uma grande cultura, a Persa, com milhares de anos de desenvolvimento; a singularidade linguística; a singularidade religiosa - o Xiismo é predominante, como acontece apenas no Irão, Azerbeijão, Bahrain, Oman e Iemen...) e o controlo do regime sobre as comunidades estrangeiras no país, incluindo as diplomáticas, sedimentado há mais de 3 décadas, fazem acreditar que a margem de manobra para intervenções estrangeiras no interior, co sucesso, é também reduzida (e até o potencial de apoio a movimentos de resistência interna parece reduzido).
Por tudo isto não parece crível que esta revolta tenha algum sucesso, a curto prazo, sendo até bem possível que o regime endureça a repressão, nos próximos tempos. Mas, a prazo mais longo, este é o primeiro momento do que parece virá a ser um processo de mudança. Esperemos que se trate de algo mais similar ao Solidariedade do que à Revolta da Hungria de 1956 ou à Primavera de Praga...
3 comentários:
A mãozinha do ocidente não está lá metida? O caso do Mário Soares que foi apoiado pelos EUA no 25 de Setembro diz-lhe alguma coisa?
Esperemos... o Irão tem mais de 70 milhões de pessoas... Bem haja. Liberdade Sempre.
Anónimo:
Se foi, ainda bem. Caso contrário estaríamos se calhar a esta hora a ser reprimidos na rua por questionar o facto de o nosso chefe de governo ser indicado por moscovo e não por nós...
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