2009-07-04

SEDES: o Congresso...

O Congresso da SEDES sob o lema A Qualidade da Democracia no Pós-Crise, foi um evento em crescendo...

A conferência de fundo pelo Professor da Universidade de Columbia,
Ronald Findlay, sinceramente, não trouxe nada de muito novo.
Seguiu-se uma apresentação de João Salgueiro, sólida, de alguém que olha o país de um prisma prospectivo. Sendo umma
leitura da realidade que deixa muita gente pouco feliz, pelo realismo, a opinião do Moscardo é que faltou, ao ainda Presidente da Associação de Bancos, apontar claramente um caminho sobre como se poderiam implementar as políticas que propõe sem mudanças no próprio sistema político-partidário e no aparelho de distribuição e acesso de poder... Ou seja: falta saber-se quais as condições de exequibilidade dessas ideias... E, sem isso, estamos no reino do "Dever Ser"...
Além disso, o excessivo foco no aspecto económico, esquece não só as dimensões sociais, culturais e ambientais, mas até as... políticas! Ora essas são as dimensões basilares de uma democracia...
A nota mais positiva: a ambição para Portugal, para os Portugueses, não se satisfazendo com "alcançar a média Europeia" mas antes almejando a "ultrapassar os melhores..."

Os debates e conversas durante o almoço volante foram vivos e a parte da tarde ainda mais estimulante. Logo após o repasto foi apresentado o estudo sobre A Qualidade da Democracia, aos olhos dos Portugueses por
Pedro Magalhaes (que tanto nos diz, das margens... as de erro e as outras...). Os resultados foram comentados em quase todos os jornais e mantiveram a audiência bem desperta, com um debate final bem vivo e que o Presidente da SEDES teve que interromper sob pena de não se terminarem os trabalhos...
Uma frase do artigo do JN sobre o estudo resume bem o lado menos positivo dos seus resultados:
"Os portugueses estão descrentes. Sentem que os eleitos não atendem às suas expectativas. Esta percepção e a de que a Justiça não funciona contribuem para a sua ideia de que a qualidade da democracia é baixa. (...)
Em suma, o estudo diz que 51% dos cidadãos não estão satisfeitos com a democracia e destes 16% dizem-se "nada satisfeitos"(...) " . Leia mais,
aqui e aqui.
Quanto aos lados positivos dos resultados, porque também os há, destacam-se as liberdades individuais.

A importância do estudo é grande, tendo
Cavaco Silva comentado o mesmo. Espera-se que possam provocar reflexões e "olhares ao espelho", de todos os cidadãoes mas, sobretudo, entre os partidos, os detentores de cargos públicos e de soberania, entre a classe política e os profissionais ligados à justiça - isto apesar de os resultados, em alguns aspectos, apenas confirmarem outros estudos já existentes.

Além do valor do estudo em si, e do interessante debate que se seguiu à sua apresentação, o Congresso teve uma parte menos mediática mas não menos rica: três paineis simultâneos - todos tendo como pano de fundo A Qualidade da Democracia no Pós-Crise...

  • no Novo Contexto Económico (org. Victor Bento, com Silva Lopes, Daniel Bessa e José Tavares, naquela que foi a sala mais concorrida)
    no Novo Contexto Social (o ilustre sociólogo Manuel Villaverde Cabral organizou uma mesa que prometia polémica, com Carvalho da Silva - CGTP; Paulo Teixeira Pinto - ex-Presidente do BCP; e Fernando Ribeiro Mendes - ex-Sec. Estado da Segurança Social, num debate com pouco participantes mas que teve grande qualidade, a julgar pelos comentários que se ouviram)
  • na Sociedade do Conhecimento (organizado por Diogo Vasconcelos, com a premiada investigadora Elvira Fortunato; o Vice-Presidente do Banco Europeu de Investimento, Carlos Costa; o Secretário de Estado e porta-voz do PS, João Tiago Silveira; e o investigador e blogger Pedro Lomba). O Moscardo esteve neste painel e irá dedicar-lhe um post especial, mais aprofundado, nos próximos dias, por ter sido extremamente denso, com diferentes visões sobre a sociedade em que vivemos e em que viveremos, sobre as suas consequências para a vida das pessoas e para os sistemas políticos, e também com pistas para os melhores caminhos e estratégias nessa nova fase das sociedades humanas, em especial para Portugal... O interesse e vivacidade do painel levaram a que se prolongasse para além da hora, terminando já após o Prof. Luís Campos e Cunha ter apresentado as Conclusões do Congresso...

No dia seguinte, hoje, dia 4 de Julho, Lisboa foi palco de novo debate, com temas afins: "Ética na Política e na Economia", organizado pela Comissão Nacional Justiça e Paz. apesar de ser um sábado de manhã e de o local ser um (belo) Auditório na Estação de Metro do Alto dos Moinhos, a sala estava muito composta para ouvir a intervenção do Professor Adriano Moreira. Brilhante, como sempre, mostrou como a crise resulta de uma questão de fundo, seja a nível interno de cada sociedade/país seja a nível internacional: da crise de confiança - do valor da confiança, da crise no exercício da Pietas (e da cidadania) e da sensação de injustiça. A sagacidade da apresentação, a forma e elegância com que expressa as suas ideias e com que honra a nossa língua bem justificaram uma longa ovação, que deixou o próprio moderador, o presidente da CNJP, quase sem palavras...

Seguiu-se um painel com José Manuel Pureza e com o sindicalista Ulisses Garrido. De novo um painel substantivo, com leituras que transcedem a visão simplista de uma mera crise financeira que provocou uma crise económica... Dentro de uns dias esta conferência merecerá também um novo post...

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