2009-07-31

Viver no Caos... ou o Poder dos Funcionários...

Há uns largos meses (bem antes das Europeias), quanto a Manuela dizia que Bloco Central "jamais" - e no PS todos concordavam com ela -, eu dizia a uns amigos que estavam todos a disparatar e que poderiam ter de engolir o que estavam a dizer...
Aproveitei, já na altura, para dizer que me parece que ambos os partidos deviam aprender a fazer contas... Passadas as eleições europeias, e umas sondagens...

Na altura, como hoje, dizia que disparatavam porque entendia que o cenário mais provável para as eleições legislativas era uma situação nova no Portugal Europeu: nenhum conjunto de 2 partidos consegue maioria no parlamento, sem ser PS+PSD. Nenhuma outra combinação "a dois" serve. Mais, disse que era provável que mesmo a abstenção de um terceiro partido/coligação não chegasse para aprovar diplomas, mesmo os que requerem apenas maiorias simples...

Ou seja: ou teremos mesmo um Bloco Central, explícito ou tácito ou uma situação de ingovernabilidade, ou um regime de alianças "votação a votação" com Cavaco a forçar a abstenção do outro partido "grande" (PS ou PSD ou ambos - conforme quem liderar o Governo for PSD, PS ou seja um governo de iniciativa presidencial) em votações de orçamento e programa de governo...
A terceira opção, a de que Cavaco permita um governo (PS, PSD ou de iniciativa Presidencial) sem possibilidade de sobrevivência, não parece credível: o que ele mais estima é a estabilidade! A segunda, a do Caos, é ainda menos verosímil pelo que... o provável é que o PR force entendimentos e, se alguém (PS ou PSD) não aceitar, terá Cavaco a fazê-lo pagar pesadamente a instabilidade... e relembrar-lhe-á o PRD...

Ou seja, na prática, pela primeira vez, PS e PSD poderão ficar completamente reféns um do outro... e por isso o discurso de ambas as lideranças partidárias era descabido, precoce e reflecte incapacidade de compreender o que gera o Sistema de Hondt em termos de conversão de resultados eleitorais em termos de distribuição de poder (mandatos). [aliás, no mesmo dia, ainda tentei explicar porque é que, em termos de matemática eleitoral, o PS ganharia mais do que ninguém em ter eleições autárquicas e legislativas no mesmo dia...].

A ironia destas legislativas, posto isto, é que, na prática, o voto "de protesto" nos demais partidos, levando a que previsivelmente PS+PSD não tenham mais de 70% dos votos, acaba por "empurrar" para um ... Bloco Central, em que poder de CDU, CDS e BE fica até reduzido!

A alternativa a isto é uma situação de Caos... com governos insustentáveis... Mas isso não é necessariamente mau :-) : tal como em Itália, os Portugueses passam (quase) bem sem governo, mesmo sendo totalmente dependentes do Estado. Mas quem gere o Estado tendem a ser, perante governos fracos, os funcionários e os grupos de interesse... e esses não vão a votos... e lá continuarão, no poder, no dia 28 de Setembro... Tal como no reino da saudosa série Yes, Prime Minister...


PS: e há ainda mais uma "pimenta" possível, provável (ainda que, pessoalmente, não acredite que acabe por acontecer), a de o PS ser o partido mais votado, mas o PSD o partido com mais deputados. Qualquer resultado com diferenças inferiores a 2%, em que PSD seja o segundo partido, tornam este desfecho não só possível como credível, dada maior concentração de votos em termos regionais no caso do PSD, e da maior dispersão no caso do PS, considerando o consistente histórico de resultados eleitorais desde 1976. Quem chamaria Cavaco para formar Governo? [nota: o inverso, de ser o PSD o mais votado e o PS o partido com mais deputados é muito mais improvável].

PS 2: outra pimenta: e se a somar ao cenário anterior, ou a qualquer cenário em que PSD seja o partido com mais deputados e/ou votos, se der o caso de que PSD e PP fiquem bem longe dos 115 deputados (cenário mais do que realista, se considerarmos que concorrem separados - seria bem diferente se concorressem juntos), e PS+BE, por exemplo, desse para 115 deputados e se o BE dissesse a Cavaco que viabilizaria Governo PS? Cavaco iria seguir os procedimentos e convidar MFL a formar Governo, mesmo sabendo que não teria grande viabilidade, ou iria dar ouvidos a... Louçã, Rosas, Fazenda e Portas (Miguel) ???
Esta eleições prometem desde já um 28 de Setembro animadíssimo!
Pobres autárquicas... não terão grandes audiência!

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